Eu, derrubada, contarei a você da minha queda, rapidamente.
Durou segundos a passagem do meu para o seu mundo.
Talvez eu devesse te culpar, ou rogar-lhe uma praga, mas esse tipo de comportamento não existe no meu mundo, de modo que eu estou aqui, no seu, metamorfoseando-me em castigo fatal. Mas me deixe narrar minha queda antes que chegue a tua.
Eu podia ouvir o terror dos motores ao longe se aproximando feito vozes dos tuberculosos. Às vezes engasgavam,os motores, e era quando havia algum suspiro mais longo, que alguém morria. Nosso grito durante a queda ninguém ouvia porque era abafado pelo grito do lenhador. Madeira!
Caía, derrubando os meus, soterrando os brotos, sufocando sementes. Caía muda. Braços abertos, indefesos. As folhas farfalhando em adeus, terra dos dinossauros.
Pois bem, meus caros. Trago a mata virgem na memória desmatada e tenho pena de vós.
Alexandre Pedro
Imagem: Alexandre Pedro
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