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-vou pôr uma música.
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-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O costume das estrelas é piscar

Ela era negra e mascava o desgaste branco do chiclete. Havia sido bela; o belo se lhe fazia agressor. Seu nome era Carrie. Falava manso, sorria tridente, mas trazia um riso mergulhado em molho tártaro. Comia com gosto o que não tem sabor. As fisgadas na curvatura vocálica faziam-na entender, e unicamente entender, que o costume das estrelas é piscar. E piscava trepidamente como que estivesse sempre em convulsão.
Em menina fora batizada na cozinha quando, por baixo da chaleira de água quente carregada pela mãe, passou correndo; fingia brincar. O espírito santo imediatamente se fez presente e deixou enorme cicatriz: marca de devoção eterna. A vida já não estava de brincadeira e lhe sorria. Carrie respondia sorvendo a saliva suja de entre os dentes: sua voz imitava a um ralo de lavanderia.
Agora, mulher feita, borbulhava feito lava dentro de um enorme cone de vulcão: Era a vida que, funilando toda ela, lhe sorvia. Carrie era o suco gástrico da inocência, e corroendo-se por dentro, o seu corpo ia incrustando, feito lava seca.
Certa vez, Irene me disse, que a vida era uma dor de dente. Por isso, narrador, eu trago um sorriso banguela pra falar na urgência alheia: O costume das estrelas é piscar.
Alexandre Pedro - O costume das estrelas

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