Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
- Gosta de livros?
- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um lápso e algumas palavras dessacralizadas


Um lápso e algumas palavras

O relógio havia parado.
Percebi o som do seu último tiquetaquear, ainda em falso, suspenso no ar.
Então, o silêncio tornou-se ensurdecedor.
Das janelas, via-se a cidade invertida. Era como se crustáceos olhassem em espelhos
de areia.
Eis que sinto, na garganta, pegadas de algum inseto repugnante a mordiscar, com
sabor, minha jugular.
Hemorrágicamente começo a nadar no tapete do quarto, e percebo lesmas embaixo da cama. Aquele amontoado de línguas a se mover numa suruba lânguida e libidinosa. Sinto-me
atraído como se fossem sereias lascivas.
Tento fugir, procuro por aquilo de que sempre fugi, a Bíblia.
Esta se desfaz em minhas mãos como lembranças de uma primavera distante.
Me arrasto ao telefone pra pedir socorro, e nas minhas mãos tenho cartilagens de
orelhas que emitem sons de ondas quebrando na encosta.
Corro até a janela, e de dentro vejo valagumes orientando um sol apagado, perdido na
órbita.
Meus olhos lacrimejam um sorriso sem dentes.
Um vento traz uma placa letrada de motel e pendura-a no cume da igreja.
Um padre cacareja palavras demoníacas.
Um certo alívio me conforta, e me derruba ao chão, do trigésimo terceiro andar.
Meu crânio estilhaça no chão frio de mármore e meu cérebro emite suas últimas
cenas, como num espetáculo final, com suruba de línguas-lesmas numa catedral derretida pelo deus sol.
A brasa do cigarro queima-me o dedo, e em susto, derrubo a xícara de café que mancha
minhas palavras sagradas.
Das páginas de meus rabiscos, um padre letrado persigna os fieis sobre um pênis avolumado.

Então, o relógio volta a tiquetaquear.
Alexandre Pedro
26/12/2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

Estória de uma prima: Vera


Estória de uma prima: Vera.

"A chuva lhe molhava o rosto. Era primeiro de primavera.
Seu corpo, embebido d'água, rebolava sensual pela alameda já florida, que ladeava sua casa.
Era uma casa com jardim. Na verdade era uma casa no jardim. Não, ainda não era. Era um jardim com uma casa.
Azaléias* lhe sorriam ao ver passar tão bela.
Era eu e Ela.
Azaleia-mo-nos. No jardim. Na casa. Era primavera com ar de verão. Era inverno com ar de outono.
Ventava.
Ao vento, bailava teus cabelos, e eles me balançavam.
Embaralhava-mo-nos por entre as folhas; testemunhas de nossas peripécias, as folhas.
Lembro-me agora, no dia que colhi uma flor e você chorou. Chorou por lembrar haver o bem e o mal.
Chorou por ter despido aquela tão pura rosa, e despojado seu orvalho.
E os girassóis de nada viram. Estavam ocupados em admirar o sol....e ainda estão."

Alexandre Pedro
24/12/2011

*Azalea ( nome correto da planta )
Imagem: Di Cavalcanti

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


Bebi de tuas palavras,
...*Esta publicação foi removida devido ao texto estar sendo integrado ao livro de estreia do autor, intitulado Flores do Ócio, e que será lançado em breve pela Giostri Editora. Mais informações: alexandre.eells@gmail.com
Agradeço muito a visita e o carinho dedicado.
Alexandre Pedro

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Homenagem ao poeta MANOEL DE BARROS, que completa hoje, 95 anos.

Entrada


Distancias somavam a gente para menos.
Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele.
Eu conversava bobagens profundas com os sapos, com as águas e com as árvores.
Meu avô abastecia a solidão.
A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:
O dia está frondoso em borboletas.
No amanhecer o sol pôs glorias no meu olho.
O cinzento da tarde me empobrece. e o rio encosta as margens na minha voz.
Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar.
Eu queria que as garças me sonhassem.
Eu queria que as palavras me gorjeassem.
Então, comecei a fazer desenhos verbais de imagens.
Me dei bem.
Perdoem-me os leitores esta entrada mas vou copiar de mim alguns desenhos verbais que fiz para este livro.
Acho-os como os impossíveis verossímeis de nosso mestre Aristóteles.
Dou quatro exemplos:
1) É nos loucos que grassam luarais;
2)Eu queria crescer passarinho;
3) Sapo é um pedaço de chão que pula;
4) Poesia é a infância da língua.
Sei que meus desenhos verbais nada significam.
Nada.
Mas se o nada desaparecer a poesia acaba.
Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Manoel de Barros
Texto extraído da abertura do livro: Poesia Completa - Manoel de Barros, 2010

domingo, 4 de dezembro de 2011



Ex vazio
para G.M

eu amo aquele que se perdeu em mim/de mim.
De distância e mistério se firmou,
tal qual, eu.
Ao longe, me busco à face tua
pra concretizar o meu vazio.
vazio tanto que esvai,
ex vazio
ex vazio
esvai em mim em líquido
amarelo quando gira o sol,
e vejo você das janelas virtuais de nossas casas.

Alexandre Pedro
Imagem: Mi Muher Desnuda - Salvador Dalí

Vão entre becos



‎"eu tenho uma sombra que não me quer levantar,

...Esta publicação foi removida devido ao texto estar inserido no livro de estreia do autor, com lançamento em breve por Giostri Editora. Maiores informações alexandre.eells@gmail.com 
Agradeço à visita e ao carinho. Alexandre Pedro


Fotografia: Nuno Ramos